sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013


Flor do deserto  X  Flor leiloada:
Waris Dirie X Catarina Migliorini

Josimara Neves

Qual o preço da virgindade na atual conjuntura? Vamos lá! Quem dá mais: dole uma, dole duas, dole três: vendido por 1,5 milhão de reais! Foi assim que aconteceu com a catarinense de 20 anos – Catarina Migliorini - que vendeu a sua pela internet! Isso que eu chamo de “transa-ção!” Grande negócio! Hodiernamente, os tempos são outros mesmo! Quem diria que chegaríamos a presenciar tal situação?
A virgindade assim como a sexualidade de modo geral são assuntos tabus ligados à moralidade e sujeitos a julgamentos. Basta entrar no túnel do tempo da história para identificar como eram retratados pelas sociedades e pela “Igreja” que funcionava como freio de mão nesse sentido. Em muitas culturas, as mulheres sofrem ainda hoje (nos tempos de leilão de virgindade e dos “Realitys Shows” da vida) com a supremacia masculina e com os ditames de homens que são considerados “deuses” na sociedade em que habitam!

A enquete de hoje é: Waris Dirie X Catarina Migliorini?
Em outras palavras: Flor do deserto X Flor leiloada?


De um lado, Waris - modelo africana- que atravessou as fronteiras da Somália para fugir da tirania daquela sociedade machista e para ir ao encontro de  si mesma e de sua autonomia feminina. Ela foi mutilada na infância quando tinha cinco anos de idade, ritual de sua cultura que crê que a genitália feminina é a personificação do “mal.” E, metaforicamente, assim como um sofisma: a genitália é do mal, o mal é arrancado pela raiz, logo, a mutilação desse órgão é arrancado pela raiz ( ou seria pelas entranhas?). Esse processo de extirpar os clitóris com objetos (lascas de pedras, facas, tesouras etc) chama-se “mutilação genital feminina” e também é conhecida como: Excisão feminina ou Circuncisão Feminina. Ela conseguiu se emancipar, “fugiu  pelo deserto  sozinha a pé na noite anterior ao seu casamento arranjado com um homem de 60 anos, que "pagou muito bem por ela". Enfrentou animais selvagens e diversos empecilhos como andar pelas areias escaldantes por 500Kms Foi viver como doméstica na Europa e longe das imposições de sua cultura, ela se tornou uma modelo conhecida internacionalmente, o que lhe permite denunciar ao mundo a barbárie a que são submetidas as mulheres somalis. Hoje Waris é embaixadora da ONU e responde por assuntos que denunciam a crueldade contra as mulheres de seu país.” (http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo_c_2853.html)

Em outra parte do mundo, a brasileira Catarina Migliorini, de 20 anos, participante de "Virgins Wanted" - documentário de um cineasta australiano - polemiza as pessoas ao leiloar sua  virgindade.
         Em entrevistas dadas, a jovem fala sobre o assunto com tanta naturalidade como se tivesse dizendo “eu durmo de olhos fechados”. Demonstra segurança e não o coloca como se fosse “algo pra tanto espanto.” Apesar de ter ótimas respostas e de mostrar-se de forma “madura” em alguns momentos, quando questionada (Entrevista concedida Brunna Castro, publicada na edição de novembro de Playboy)  se fez algum treino para as preliminares, responde de forma tipicamente adolescente:como disse, jamais tive contato sexual de nenhuma modalidade com ninguém. Mas, se isso serve, já imaginei beijos ardentes e treinei com uma laranja descascada.”
E aí: como lidar com situações tão antagônicas? De um lado, a“Flor do deserto” representada por Waris Dirie  que não teve o direito de escolher se queria ser mutilada e, de outro, a “Flor leiloada” referindo-se à Catarina Migliorini que nasceu em um país mais liberal e optou por leiloar a sua virgindade pela internet.
Sinceramente, é difícil abordar esse assunto que mostra que não precisa ser “nem tanto ao mar nem tanto à terra.” O que eu sei é que as mulheres continuam sofrendo em detrimento do que se foi construído social e culturalmente falando. Continuam vítimas de sociedades machistas as quais elegem os homens para decidir sobre o futuro delas. Continuam presas, embora se considerem livres! A menina mutilada foi ferida não somente fisicamente, mas em seus direitos humanos.  Isso é relativismo cultural? E daí? Pra que serve a Declaração Universal dos Direitos Humanos? Cabe a quem intervir quando o que conta é a vida humana? Esse é um dos exemplos que mostra o poder que a cultura atribui aos homens sobre as mulheres.
E no caso do leilão da virgindade acho que também exemplifica esse poder, mesmo que a jovem Catarina Migliorini tenha consentido, mostra a mulher vista como uma mercadoria, um objeto, uma banana em que se compra, tira a casca, come e se joga fora. Come quem compra e, nesse caso, quem paga mais. Isso é liberdade? É libertador? É revolucionário? É democrático? É profissional? É cabível? É avanço feminino? É  exercício do livre-arbítrio? (?????????????????)
Sinceramente, não ouso atirar-lhe pedras, ao invés disso, prefiro pensar na beleza, no encantamento e na resistência da “Flor do deserto” que, rodeada por adversidades e por perigos, foi capaz de afastar um leão apenas com a força do seu olhar!

  Catarina Migliorini
Waris Dirie
  

Posando para a Playboy!

Momento para a reflexão:
E numa tarde fria de verão, sentada na beira do mar, foi quando eu me descobri mulher...guerreira, forte, independente, e ao mesmo tempo sensível, querendo amor, carinho e atenção. E quando olhei o mar de volta percebi que tinha deixado pra trás toda a minha inocência... e o mar tocou meus pés de novo, nessa hora eu me senti livre, como se o mar tivesse levado tudo o que já me fez mal...Foi então que eu respirei fundo, fechei os olhos e deixei que o vento, o mar, e o tempo tomassem conta da minha alma, e nesse instante fui feliz.
Graycielly
PS: Imagens: Google/Imagens 

Veja na íntegra a entrevista espanto com a jovem Catarina:
Entrevista Veja/abril

4 comentários:

  1. LIVRE ARBRÍTRIO MESMO.
    Flor do deserto.. luta pra sobreviver.
    Flor leiloada.. quando a ultima pétala cair, quem sabe tenta se levantar...

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  2. Interessantes pontuações!
    Gostei da forma como abordou o assunto!
    Parabéns pelo blog! Bem misto e com bastante conteúdo!

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  3. "Prefiro pensar na beleza, no encantamento e na resistência da “Flor do deserto” que, rodeada por adversidades e por perigos, foi capaz de afastar um leão apenas com a força do seu olhar! "( Josimara)
    Josi-sempre corajosa, profunda e verdadeira...E nós na Faculdade, nas oficinas, rodas de conversas,jogadas de truco,Congressos, enfim....onde tem seres humanos, conversando, refletindo, rindo, chorando e se indignando, ta aí: essa discussão de tão séria, poderá virar piada num país onde o que marca são as superficialidades mascaradas...Não é revolta, é indignação mesmo...Então: colegas,alunos, ex-alunos, amigos/as,familiares e cia....que possamos admirar " Waris Dirie" que represença a força da resistência, a superação de si-numa cultura do não...a coragem de olhar um leão e ainda dizer para ele: estou pronta, coma-me, e ele sair no meio deserto a procura de uma outra caça. Vale a pena ler a matéria da Josi...eu prometi para mim mesmo: nem vou acessar o face...e jurei...também não vou escrever textos longos...e olha eu aqui..me contradizendo e não querendo mais deixar de escrever.....ia para a Cachoeira...rs, mas a chuva chegou......as lágrimas rolam.....pois como não se emocionar ao entrar em contato com a Guerreira do Deserto-Wires - que saiu da singularidade e atingiu universalidade,ou seja: não resolveu apenas seu problema depois que ficou milionária e famosa, ela voltou e se recordou que ainda existiam outras "flores do deserto"....O meu tributo carnavalesco jamais será para as globelezas( que também possuem seu mérito)mas a majestosa " Flor do Deserto" que na minha ótica entendeu o sabor da liberdade "........Parabéns Josimara....sempre profunda e representa a força feminina no séc. XXI....no meio do caos..surge ...uma luz....ou várias,né? rs

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  4. Necessario falar sobre o papel das mulheres em cada cultura. Como tenho herança oriental sei qe no Japão os homens ainda tem muito poder sobre nós. Poucas mulheres ocupam cargo de liderança, lá ainda predomina a visão do homem como o provedor, já as mulheres só podem trabalhar pra complementar a renda. A função do homem continua como chefe de família. É um problema cultural e que precisa ser mudado porque vivemos em outra época, outra geração.
    Quando li o seu texto, lembrei que na China antigamente existia a prática Chan-Zu de atrofiar os pés sendo que muitas mulheres sofreram com tal prática tradicionalmente cultural, não era uma tradição japonesa,mas chinesa. Também é um bom exemplo sobre o papel das mulheres em cada sociedade.


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