segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016



Em busca de liberdade e/ou de libertação?
Josimara Neves

Fonte: http://acasadevidro.com/2015/07/20/eu-sei-porque-canta-o-passaro-engaiolado-dois-poemas-maya-angelou-e-rabindranath-tagore/


Não sei ao certo a diferenciação entre liberdade e libertação. Quando penso em liberdade, na minha mente, vem a imagem de “asas”, de um voo que transcende à esfera da finitude humana. Metaforicamente, um pássaro qualquer. Já, a libertação, como uma liberdade aprisionada, um aprisionamento do que liberta, a impossibilidade de voar, mesmo tendo asas. Uma corrente que aprisiona braços que querem se movimentar. Abraço impedido, pernas inertes, olhos vendados, falas contidas, sentimentos não demonstrados, talentos sufocados, sonhos guardados. Alegrias ocultas por trás de tristeza aparente. Sofrimentos que ocupam lugares onde a felicidade deveria se manifestar. Projeções que inviabilizam a beleza existente no que é real. Ilusões que deturpam a visão e distorcem o entendimento nos fazendo acreditar que o ideal é superior à realidade, dando o esquecimento da beleza contida nos hiatos da vida, nas entrelinhas do dito, na grandeza existente naquilo que, aparentemente, é pequeno.
 Ausência de libertação é similar ao aprisionamento da alma, é algemar apenas as asas e colocá-las dentro de uma gaiola, enquanto o corpo permanece do lado de fora dela. Assim, o corpo faz um movimento para sair, mas a alma não a acompanha.  Por quê? Porque há incongruências que precisam ser alinhadas. Corpo e alma necessitam se afinizar, reconciliarem-se. Não há liberdade se não houver libertação e, não há libertação, se a própria pessoa não se dá a carta de “alforria”. Escrava de seus vícios, subalterna a pensamentos nocivos, subordinada à tristeza, refém do sofrimento, vítima de si mesma.
Libertação é mais do que bater asas e voar, é (re)aprender o prazer de alçar voos. Bater asas talvez seria, para os pássaros, o que andar é para os humanos: um movimento natural. Mas saborear o voo é diferente de apenas voar. Quem não curte o voo e vislumbra as alturas, só bate asas, mas não voa. Aquele que anda e não se vislumbra com a caminhada, apenas anda. Há quem passe pela vida e só saiba andar, há aqueles que, por problemas físicos, motores, nunca andaram, mas aprenderam a caminhar de outras formas. Viver é mais do que cumprir com aquilo que é funcional, que cumpre uma função. É descobrir o que impulsiona. Pulsão.
Há pessoas que são pássaros engaiolados, mesmo tendo possibilidades de voar, de romper com o espaço limitador, no interior de sua gaiola. Há outras, que nasceram “engaioladas”, devido às suas limitações, mas no decorrer da vida, descobriram brechas para voar.
Liberdade é um dom, uma característica natural. Quando perdida ou não encontrada, torna-se prisão. Libertação é a capacidade de redescobrir a liberdade perdida e de romper com os grilhões interiores para que a alma possa, enfim, voar na finitude da existência humana e na infinitude divina e sideral.
Enquanto pássaro, você tem liberdade. Enquanto Fênix,terá libertação. Essa, conquistada através do renascimento interior, da superação da crise, da descoberta através do autoconhecimento.
Reconciliar-se, sentir-se em paz, olhar as possibilidades existentes entre as brechas da gaiola é essencial para quem anseia conhecer a liberdade oriunda da libertação.



Voe, feche os olhos, deixe o vento bater e refrescar a sua alma. Não sinta o peso de ter que bater as asas. Ao invés disso, entregue-se, de corpo e alma, ao voo! Essa é uma forma simples de transcendência.