domingo, 8 de março de 2015

Sou, se sou: quem sou?

Josimara Neves



Sou menina, moça, moleca, filha, irmã, tia, sobrinha, prima, namorada, amiga...
Sou alguém que tem sede de “ser”, de ter identidade, de ter expressão, de ter voz, de ter a alma livre para poder alçar voos e desbravar o mundo.
Sou alguém que deixa marcas e que também é marcada...
Sou alguém que possui defeitos e qualidades...
Sou alguém que se esforça para resistir às forças opressoras e negativistas do mundo...
Não quero ser melhor do que ninguém, mas não me permito deixar de dar o meu melhor, se assim eu posso fazer.
Não busco aprovações, mas quero ser reconhecida.
Não quero ser igual, porque aceito a minha diferença no mundo.
Tenho horror à perfeição, quero poder errar e assumir a minha falibilidade no mundo, quero poder ser “humana”, sem ser julgada pelas projeções alheias, depositadas em mim.
Descobri o prazer de ser mais ou menos, sem precisar ter que ser sempre mais, e mais, e mais... Nem por isso, acomodei-me ou mesmo, fechei os olhos para o aprendizado e para novos conhecimentos.
No silêncio, dentro de um silêncio ainda mais “silencioso”, escutei-me de tal forma que até o vento uivava de tão ensurdecedor. Aprendi que tem coisas que não são ditas em palavras, nem sempre palavras saem da boca de alguém, nem sempre alguém é que nos fará escutar. Desse aprendizado, levo comigo a certeza de que a paz interior, para poder existir, necessita consultar a voz que ecoa aos ouvidos da alma, seja através de um sopro, de um assovio, de um arrepio, de um sussurro, de um silêncio que grita ou de um grito que se silencia, de um olhar compenetrante ou mesmo, diante do desvio de um olhar. Da mão que se estende ou de outra que se recua, da aproximação ou do distanciamento...
 Aprendi que se limitar a pensar que o silêncio é audível, é uma forma restrita de conceituá-lo. Pode ser sentido na pele, visto nos olhos, ser indigesto como se tivesse paladar, ter fragrância e nuances. É, o silêncio tem me ensinado! Não a deixar de conversar, mas a falar de coisas que ocultam o que quero silenciar.
Sou alguém que, por muito tempo, sonhou acordada, mas que hoje, acorda sonhando: um sonho lindo e real.
Sou alguém que acredita que a vida pode ser doce e que é possível encontrar doçura até mesmo na amargura.
Sou alguém que aprendeu a construir castelos de concreto, depois de ter tido os  castelos de areia destruídos pelo vento... Não deixei de “castelar", apenas aprendi que não preciso deixar de fazer algo que me nutre somente porque alguém poderá destruir a minha obra, ao invés disso, fortaleci a minha (arga)massa interior.
Sou alguém que aprendeu que quem consegue romper com o “casulo”, nunca mais terá medo de voar.
Sou alguém que aprendeu que ter pensamento falante causa desgaste nas “cordas vocais” da alma.
Sou alguém que descobriu que o mundo de fora é mera extensão daquele que se esconde nos recônditos interiores...
Sou alguém que veio ao mundo para escrever a própria história, para contar causos, aprender com os casos e se conectar diante dos acasos. Sim, minha vida é recheada de casos, causos e acasos!
No verso, uma inversão!
No avesso, um tropeço!
Na escuridão, um clarão!
No compasso, um descompasso!
Às vezes, quando tenho que ser coesa, saio-me coerente, outras, falta-me sentido, mas não, prolixidade! Há momentos em que penso que a vida precisa de menos nexo e mais sexo, em outros, acho que menos sexo teria algum nexo, mas não teria sentido. Acho mesmo que a vida precisa de tudo um pouco, e muito, em outros poucos. Mas quem é que vai nos dizer quando é que o muito precisa de pouco e o pouco de muito?
Antíteses misturadas, metáforas exageradas, hipérboles “eufemizadas”, falas onomatopeicas, singular-pluralizada: sou um pouco assim!
Sabe, desisti de tentar me definir! Minha mente “labiríntica” se perde cada vez que se encontra e, se encontra, cada vez que se perde!
Acho mesmo que, se eu pudesse me definir, diria que sou um coringa no meio de um baralho tão bem embaralhado, só me resta: sorrir!
Lembra-se daquela menina que começou esse texto?
Então, hoje, ela é MULHER! E, como mulher, nunca deixou de  ser: moça, moleca, filha, irmã, tia, sobrinha, prima, namorada, amiga! Mais do que isso, hoje essa mulher é capaz de reconhecer que não seria nada se não tivesse, ao lado dela, mulheres incríveis que teceram a sua personalidade.

E, em gratidão a essas mulheres ( minha mãe, irmãs, sobrinha e amigas), tão especiais, fica aqui – registrado – os meus parabéns, porque elas fazem jus, diariamente, ao “Dia das Mulheres!”

Feliz Dias das Mulheres para aquelas que não se permitem ser rótulos, e são capazes de romper com as diversas formas de estigmatização.

Ser mulher foi e sempre será um desafio de cada, e toda, época!