sexta-feira, 13 de junho de 2014

Boiando na "Copa do Mundo!"

Sobre a minha brasilidade...
Josimara Neves






Sinceramente, não entendo nada de futebol! Nunca fui a um estádio, faltei às aulas de chamada oral, por isso, desconheço nomes de clubes, de técnicos, de jogadores.  Sou alienada?! Talvez! Não foi o futebol que custeou os meus estudos, não aprendi a ser “gente” jogando futebol, não me sinto menos brasileira por ser assim. Tudo isso não implica que eu não goste, apenas que não sou especialista no assunto! Discordo dos altos salários que os jogadores ganham, mas não os culpo por ganharem bem, porque o problema – ao menos o cerne – não é esse. Não acho que banindo o futebol do Brasil, os problemas acabarão. Assim como no futebol, quem faz o jogo é quem joga, com o país também: quem o faz é o seu povo! E disso eu sempre me orgulhei: da nossa brasilidade, não disse da vulgaridade! Disse “brasilidade:” das misturas, das diversidades, das culturas aglomeradas, dos sotaques diferenciados, das diversas “facetas     que tem o Brasil. ´

Sempre me orgulhei de olhar nos olhos de um aposentado, com a face enrugada, com postura curvada, aquele que recebe um salário- mínimo e enche o peito para se gabar dos seus valores, das suas conquistas, da educação que deu ao filho, das lavouras que ajudou a semear, da vida simples e digna que teve, dos princípios que herdou do seu pai, que por sua vez herdou do avô, que herdou do bisavô.  

Sempre me orgulhei de ouvir gente tida como “pobre”, mas que de pobre mesmo, só a escassez de recursos materiais, pois do contrário, é de uma riqueza de caráter, de “brio” na face, de  vergonha moral, de honestidade que não tem preço.

Sempre me orgulhei de gente que lutou não com armas, mas com o “peito”, com a bravura de quem sabe o porquê luta e se arrisca a colocar a vida em risco pela causa que defende. É aquele tipo de combate que, se o combatente morrer, morre feliz! E os sobreviventes, lamentam a morte dele, mas se sentem felizes ao entenderem que morrer por uma paixão é justificável, ameniza a dor!

Sempre me orgulhei da nossa “brasilidade gastronônima”, do excesso de: cores, cheiros, temperos, sabores...

Sempre me orgulhei de tantas coisas que, na minha cabeça, representam o Brasil.

Hoje, essa brasilidade já não é a mesma e nem me orgulha tanto! Importamos futilidades “anglicizadas”, bobagens “inglesadas”, gírias estadunidenses, estilos fast-foods. Não quero parecer xenofóbica, apenas enfatizar que importamos “merda” e exportamos “estrumes” que fertilizam o mundo à custa de um pseudo-enriquecimento de nossa parte.

Percebo que se fala muito mal o português e tem um tanto de brasileiro metido à besta achando que está abafando ao falar meia dúzia de expressões em inglês enquanto escreve “nóis vai”, “a gente fomos.” A minha crítica não se refere às pessoas que falam errado por desconhecimento/ ignorância, mas sim, àquelas que criticam o ex-presidente por ele não ter curso superior, por falar errado sendo que, no fundo, sabem menos ainda.

Enfim, em plena Copa do Mundo, no meio de um vulcão em erupção, de uma caixa de marimbondos ouriçados, de gente de tudo quanto é jeito, vindo de todo canto possível desse mundo, com o fervor das manifestações, eu me encontro aqui, tentando arrumar força interior para resgatar o meu orgulho à brasilidade, hoje, perdida!

Como eu disse no começo do texto, pouco sei sobre futebol, mas nem por isso, vou torcer contra o meu país, mesmo que uma ínfima parcela dele tenha me decepcionado ao xingar a Presidente da República numa forma catártica de exposição mundial. Não é dessa brasilidade elitizada e sem educação que eu me orgulho, ela não me representa!

Não sei o que dizer. Talvez a brasilidade que habita em mim soe – oculta – tal como um grito tímido que ecoe, sem ruídos, no meio de um coral de vozes que disputa com as buzinas para ver quem vibra mais diante do gol. Um gol contra, outro - fruto de um pênalti que não existiu- àquele projetado pelo futuro artilheiro da Copa – e um, verdadeiramente digno,  resultante de um motivador intrínseco.

Talvez essa brasilidade, essa mesmo, que habita em mim, seja confusa, pois ela não entende o porquê de milhares de pessoas poderem levantar uma campanha “Contra a Copa do Mundo” e o Marcelo não poder fazer um gol contra?

Ah, talvez como brasileira, eu esteja me sentindo uma “gringa” que olha ao redor e enxerga tudo diferente, não se vê e não se reconhece.

Hoje, sexta-feira 13, do mês de junho (um dia após o dia dos namorados e a abertura da Copa do Mundo 2014 no Brasil) dia de Santo Antônio, eu acabo de descobrir que aqui, no Brasil, existem várias línguas e, definitivamente, “Vai tomar no cú, Dilma” é uma expressão que não existe no vocabulário da língua que eu falo! Lá em Minas, no seio da minha família, na educação que recebi, com toda a minha brasilidade mineira, esse “trem” não entra dentro de casa! Dá azar, ofende, denigre e rebaixa, não necessariamente a quem se pretende atingir, mas sobretudo, a si mesmo!

Peço a Deus que a Copa acabe, como irá acabar, mas que junto com ela não acabe – dentro de mim – o respeito pelo outro e, sobretudo, os valores e os princípios que herdei daquela saudosa brasilidade (que falei no começo), no meu caso, construída lá em Minas, na minha casa, na minha família, junto com as pessoas que amo!