Flor do deserto X
Flor leiloada:
Waris Dirie X Catarina
Migliorini
Josimara Neves
Qual o preço da virgindade na
atual conjuntura? Vamos lá! Quem dá mais: dole uma, dole duas, dole três:
vendido por 1,5 milhão de reais! Foi assim que aconteceu com a catarinense de
20 anos – Catarina Migliorini - que vendeu a sua pela internet! Isso que eu
chamo de “transa-ção!” Grande
negócio! Hodiernamente, os tempos são outros mesmo! Quem diria que chegaríamos
a presenciar tal situação?
A virgindade assim como a
sexualidade de modo geral são assuntos tabus ligados à moralidade e sujeitos a
julgamentos. Basta entrar no túnel do tempo da história para identificar como
eram retratados pelas sociedades e pela “Igreja” que funcionava como freio de
mão nesse sentido. Em muitas culturas, as mulheres sofrem ainda hoje (nos
tempos de leilão de virgindade e dos “Realitys Shows” da vida) com a supremacia
masculina e com os ditames de homens que são considerados “deuses” na sociedade
em que habitam!
A enquete de hoje é: Waris
Dirie X Catarina Migliorini?
Em
outras palavras: Flor do deserto X Flor leiloada?
De um lado, Waris -
modelo africana- que atravessou as fronteiras da Somália para fugir da tirania
daquela sociedade machista e para ir ao encontro de si mesma e de sua autonomia feminina. Ela foi
mutilada na infância quando tinha cinco anos de idade, ritual de sua cultura
que crê que a genitália feminina é a personificação do “mal.” E,
metaforicamente, assim como um sofisma: a genitália é do mal, o mal é arrancado
pela raiz, logo, a mutilação desse órgão é
arrancado pela raiz ( ou seria pelas entranhas?). Esse processo de extirpar os
clitóris com objetos (lascas de pedras, facas, tesouras etc) chama-se
“mutilação genital feminina” e também é conhecida como: Excisão feminina ou Circuncisão
Feminina. Ela conseguiu se emancipar, “fugiu pelo deserto
sozinha a pé na noite
anterior ao seu casamento arranjado com um homem de 60 anos, que
"pagou muito bem por ela". Enfrentou animais selvagens e diversos
empecilhos como andar pelas areias
escaldantes por 500Kms Foi viver como doméstica na Europa e longe das imposições de sua cultura, ela
se tornou uma modelo conhecida internacionalmente, o que lhe permite denunciar
ao mundo a barbárie a que são submetidas as mulheres somalis. Hoje Waris é embaixadora
da ONU e responde por assuntos que denunciam a crueldade contra as mulheres de seu país.” (http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo_c_2853.html)
Em outra parte do mundo,
a brasileira Catarina Migliorini, de 20 anos, participante de "Virgins
Wanted" - documentário de um cineasta australiano - polemiza as pessoas ao
leiloar sua virgindade.
Em entrevistas
dadas, a jovem fala sobre o assunto com tanta naturalidade como se tivesse
dizendo “eu durmo de olhos fechados”. Demonstra segurança e não o coloca como
se fosse “algo pra tanto espanto.” Apesar de ter ótimas respostas e de mostrar-se
de forma “madura” em alguns momentos, quando questionada (Entrevista concedida Brunna Castro, publicada na edição de novembro de Playboy) se fez algum treino
para as preliminares, responde de forma tipicamente adolescente: “como disse, jamais tive contato sexual de nenhuma
modalidade com ninguém. Mas, se isso serve, já imaginei beijos ardentes e treinei com uma laranja descascada.”
E aí:
como lidar com situações tão antagônicas? De um lado, a“Flor do deserto”
representada por Waris Dirie que não teve o direito de escolher se queria
ser mutilada e, de outro, a “Flor leiloada” referindo-se à Catarina
Migliorini que nasceu em
um país mais liberal e optou por leiloar a sua virgindade pela internet.
Sinceramente, é
difícil abordar esse assunto que mostra que não precisa ser “nem tanto ao mar
nem tanto à terra.” O que eu sei é que as mulheres continuam sofrendo em
detrimento do que se foi construído social e culturalmente falando. Continuam
vítimas de sociedades machistas as quais elegem os homens para decidir sobre o
futuro delas. Continuam presas, embora se considerem livres! A menina mutilada
foi ferida não somente fisicamente, mas em seus direitos humanos. Isso é relativismo cultural? E daí? Pra que
serve a Declaração Universal dos Direitos Humanos? Cabe a quem intervir quando
o que conta é a vida humana? Esse é um dos exemplos que mostra o poder que a
cultura atribui aos homens sobre as mulheres.
E no caso do leilão
da virgindade acho que também exemplifica esse poder, mesmo que a jovem Catarina Migliorini tenha consentido, mostra
a mulher vista como uma mercadoria, um objeto, uma banana em que se compra,
tira a casca, come e se joga fora. Come quem compra e, nesse caso, quem paga
mais. Isso é liberdade? É libertador? É revolucionário? É democrático? É
profissional? É cabível? É avanço feminino? É exercício do livre-arbítrio? (?????????????????)
Sinceramente, não
ouso atirar-lhe pedras, ao invés disso, prefiro pensar na beleza, no
encantamento e na resistência da “Flor do deserto” que, rodeada por
adversidades e por perigos, foi capaz de afastar um leão apenas com a força do
seu olhar!
Catarina Migliorini
Waris Dirie
Posando para a Playboy!
Momento para a reflexão:
E numa tarde fria de verão, sentada na beira do mar, foi quando eu me descobri mulher...guerreira, forte, independente, e ao mesmo tempo sensível, querendo amor, carinho e atenção. E quando olhei o mar de volta percebi que tinha deixado pra trás toda a minha inocência... e o mar tocou meus pés de novo, nessa hora eu me senti livre, como se o mar tivesse levado tudo o que já me fez mal...Foi então que eu respirei fundo, fechei os olhos e deixei que o vento, o mar, e o tempo tomassem conta da minha alma, e nesse instante fui feliz.Graycielly
PS: Imagens: Google/Imagens
Veja na íntegra a entrevista espanto com a jovem Catarina:
Entrevista Veja/abril
Veja na íntegra a entrevista espanto com a jovem Catarina:
Entrevista Veja/abril
LIVRE ARBRÍTRIO MESMO.
ResponderExcluirFlor do deserto.. luta pra sobreviver.
Flor leiloada.. quando a ultima pétala cair, quem sabe tenta se levantar...
Interessantes pontuações!
ResponderExcluirGostei da forma como abordou o assunto!
Parabéns pelo blog! Bem misto e com bastante conteúdo!
"Prefiro pensar na beleza, no encantamento e na resistência da “Flor do deserto” que, rodeada por adversidades e por perigos, foi capaz de afastar um leão apenas com a força do seu olhar! "( Josimara)
ResponderExcluirJosi-sempre corajosa, profunda e verdadeira...E nós na Faculdade, nas oficinas, rodas de conversas,jogadas de truco,Congressos, enfim....onde tem seres humanos, conversando, refletindo, rindo, chorando e se indignando, ta aí: essa discussão de tão séria, poderá virar piada num país onde o que marca são as superficialidades mascaradas...Não é revolta, é indignação mesmo...Então: colegas,alunos, ex-alunos, amigos/as,familiares e cia....que possamos admirar " Waris Dirie" que represença a força da resistência, a superação de si-numa cultura do não...a coragem de olhar um leão e ainda dizer para ele: estou pronta, coma-me, e ele sair no meio deserto a procura de uma outra caça. Vale a pena ler a matéria da Josi...eu prometi para mim mesmo: nem vou acessar o face...e jurei...também não vou escrever textos longos...e olha eu aqui..me contradizendo e não querendo mais deixar de escrever.....ia para a Cachoeira...rs, mas a chuva chegou......as lágrimas rolam.....pois como não se emocionar ao entrar em contato com a Guerreira do Deserto-Wires - que saiu da singularidade e atingiu universalidade,ou seja: não resolveu apenas seu problema depois que ficou milionária e famosa, ela voltou e se recordou que ainda existiam outras "flores do deserto"....O meu tributo carnavalesco jamais será para as globelezas( que também possuem seu mérito)mas a majestosa " Flor do Deserto" que na minha ótica entendeu o sabor da liberdade "........Parabéns Josimara....sempre profunda e representa a força feminina no séc. XXI....no meio do caos..surge ...uma luz....ou várias,né? rs
Necessario falar sobre o papel das mulheres em cada cultura. Como tenho herança oriental sei qe no Japão os homens ainda tem muito poder sobre nós. Poucas mulheres ocupam cargo de liderança, lá ainda predomina a visão do homem como o provedor, já as mulheres só podem trabalhar pra complementar a renda. A função do homem continua como chefe de família. É um problema cultural e que precisa ser mudado porque vivemos em outra época, outra geração.
ResponderExcluirQuando li o seu texto, lembrei que na China antigamente existia a prática Chan-Zu de atrofiar os pés sendo que muitas mulheres sofreram com tal prática tradicionalmente cultural, não era uma tradição japonesa,mas chinesa. Também é um bom exemplo sobre o papel das mulheres em cada sociedade.