domingo, 8 de junho de 2014

Preâmbulo de um livro inacabado!
Josimara Neves






Pode ser que eu não seja um terço do que sonhei para mim, que eu não tenha metade daquilo que pensei que pudesse ter, que me falte dez centavos para inteirar uma conta, que eu cometa erros numa proporção inexata de dízimas periódicas, que três décimos de mim ocultem os meus segredos escondidos por trás de um décimo de outra parte minha.

Pode ser que eu não seja um cálculo exato, que eu não caiba em uma equação matemática, que a minha vida não se encaixe em nenhum conjunto no qual eu não esteja contida. Pode ser que eu seja um elemento neutro, dentro de um conjunto inexistente!

Pode ser que eu seja o resultado de uma operação que deu errado, cujos matemáticos não entendem, mas caso entendam, não saibam explicar.

Pode ser que como uma adição, eu me subtraia.

Como subtração, eu soma!

Como divisão, eu multiplique!

Como multiplicação, eu me desdobre ou me desmembre!

Não sei! Talvez eu não saiba me definir racionalmente. Talvez seja ilógico me autodescrever como se eu fosse uma equação matemática, sabendo que  respiro vírgulas, suspiro interjeição, exclamo o tempo todo, interrogo constantemente e, quase sempre, nunca sei quando é hora de pôr o ponto final.

É, talvez no livro da minha vida, eu seja simplesmente isso: um sujeito que de tão indeterminada, tornou-se oculta aos olhos alheios, porém, da invisibilidade oculta passou a ser um sujeito “simples”. E dessa simplicidade, levo comigo o essencial: olhares autênticos, sorrisos transparentes, corações abertos, amizades verdadeiras, valores familiares e – TODOS- os sonhos que cabem (e também os que não cabem) dentro da minha bagagem interior. E, tudo isso, porque se amanhã ou depois o trem da vida me avisar que é hora de parar em alguma estação, eu vou ter certeza de que levei comigo tudo o que – verdadeiramente – era importante.

“Sem mais, aqui jaz uma mensageira do amor!”

Josimara Neves

08/06/14

Coisas que o Google não diz...


                                                                     
                                                Josimara Neves
                                                   Marília Neves

Compartilho aqui, com vocês, o "artigo" publicado na nossa coluna semanal - Psicoletrando - do Jornal do Sudoeste
Espero que gostem! 
Bom domingo! 
 

Você pode digitar no Google a palavra “amor”, e ele, como um bom site de busca, cumprirá com o seu propósito, colocando, entre outras coisas, o significado na Wikipédia: Amor, é o nível ou grau de responsabilidade, utilidade e prazer com que lidamos com as coisas e as pessoas que conhecemos”.
Está errado? Não!
O Google fala de: significados, notícias, conceitos, entretenimentos, curiosidades, imagens, vídeos e tudo aquilo que, porventura, alguém já ousou pensar, falar, escrever, registrar. Diz coisas interessantes, bizarras, engraçadas, meigas, sinistras.
Resolve problemas rapidamente, sacia dúvidas urgentes, é de fácil acesso. À primeira vista, sabe tudo, contudo se mostra prepotente, às vezes, pois se digito “ciança”, ele acha que eu quero dizer criança. Mas não quero. Na verdade, busco criar palavras, inventar “modices”, brincar com a escrita, não sei por que insiste em achar que sabe o que eu busco. Mal termino de digitar e lá vem ele intrometendo onde não é chamado.
Outro dia, digitei a letra F, e a primeira opção dada foi: FACEBOOK! Tudo bem que seja a sensação do momento (até que inventem um tal de FACECURT), porém a minha intenção era buscar “fui ali num lugar que eu não sei onde.” Quando digitei isso, descobri uma outra funcionalidade do Google: distorção de sentido.
Eu disse que “fui ali num lugar que eu não sei onde”, e ele entendeu: “fui ali ser feliz e não volto.” Pensou que fui buscar a felicidade e que não queria voltar. Quem disse isso? Eu só queria saber se alguém também já  havia ido a esse lugar, nada mais.
Não contente, ele continuou achando que estava me mostrando o que eu procurava e me apontou a seguinte frase: “Vou ali comprar cigarros e já volto!” Primeiro, quem foi que disse que eu fumo? E quem foi que falou que se eu fumar, voltarei ?
Tirando o lado cômico da situação, o fato é que dar nome aos sentimentos é diferente de senti-los, falar o que é natureza não dimensiona a sensação de vento no rosto, o frescor das sombras das árvores, o encantamento de cada flor, em época de primavera!
Dizer que a “felicidade é um estado durável de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico, em que o sofrimento e a inquietude são transformados em emoções ou sentimentos que vão desde o contentamento até a alegria intensa ou júbilo” é reduzir a palavras o que só se entende sorrindo.
Pão de queijo no Google não passa de palavra sem cheiro de queijo.
Sendo assim, não pense que uma “googleada” vai resolver o seu problema, porque pessoa é pessoa, palavra é palavra e, no mais, os outros são os outros!



Nem tudo pode ser encontrado com facilidade. Há conceitos que o dicionário não traduz; sensações que não descrevemos com palavras; sentimentos que camuflamos; vontades que reprimimos, afinal, nosso universo é complexo e, nem sempre, é compreendido apenas com a razão.

Josimara Neves
Marília Neves


segunda-feira, 2 de junho de 2014


Na calada da noite...
Josimara Neves

 



Seria mais fácil compor versos decassílabos numa versão “camoniana” de ser, tentar fazer rimas ricas e concordâncias bizarras. Gastar todo o repertório, usar palavras eruditas e fazer conjugações complexas. Desenterrar vocábulos  em desuso, citar autores e pensadores que hoje sucumbem na tumba existencial. Pensando bem, acho que seria mais fácil eu tentar me adequar às padronizações vigentes, aos modelos estipulados pela sociedade, a tudo aquilo que a sociedade dita como “belo”, “certo”, “perfeito!”
Não sei, acho que qualquer coisa, por mais difícil e inconcebível, nesse momento, me parece mais fácil do que tentar transpor as barreiras que você traz no peito. Não sei se são escudos, espinhos! Não sei se está totalmente protegido por couraças que impedem o seu ego de dar o poder que você não pode ter, por correr o risco de achar que é “Deus!”
Não sei, talvez as suas mentiras me soem como verdade. Não sei! Será que é tudo verdade e eu, com uma típica insegurança – nascida na tenra infância – preciso acreditar que é mentira?
Às vezes, penso que o tempo que perco pensando em entender, é em vão! Não sei, se é “tempo perdido”, afinal, ouvindo Renato Russo, um mantra martela na minha mente divagante, dizendo-me tal como um sino desgovernado:
“___Não tenho mais o tempo que passou!”        
E perder  (o) tempo, tão avultado nos dias de hoje, assim como sempre foi, é uma  prodigalidade! Mas, pior do que malbaratá-lo, é sentir que junto com o tempo perdido, o tempo não gasto com as vivências que eu queria construir ao seu lado, me dói ainda mais.
Presa em pensamentos confusos e difusos, em madrugadas mal dormidas, reflexões- das mais diversas – surgem:


“Será só imaginação?
Será que nada vai acontecer?
Será que é tudo isso em vão?”


Não sei!

              A noite se foi...
                                   O dia se faz presente...
                                                                    Repostas? Não as tenho!

                                                                                Mas, a canção continua:

“Nos perderemos entre monstros
Da nossa própria criação
Serão noites inteiras
Talvez por medo da escuridão.”


Fui-me, antes que a escuridão da noite escureça o dia, que já amanheceu!
E quanto a você?
Continuo sem entender...