Boiando na "Copa do Mundo!"
Sobre a minha brasilidade...
Josimara Neves
Sinceramente, não entendo nada de futebol! Nunca fui a um
estádio, faltei às aulas de chamada oral, por isso, desconheço nomes de clubes,
de técnicos, de jogadores. Sou
alienada?! Talvez! Não foi o futebol que custeou os meus estudos, não aprendi a
ser “gente” jogando futebol, não me sinto menos brasileira por ser assim. Tudo
isso não implica que eu não goste, apenas que não sou especialista no assunto!
Discordo dos altos salários que os jogadores ganham, mas não os culpo por
ganharem bem, porque o problema – ao menos o cerne – não é esse. Não acho que
banindo o futebol do Brasil, os problemas acabarão. Assim como no futebol, quem
faz o jogo é quem joga, com o país também: quem o faz é o seu povo! E disso eu
sempre me orgulhei: da nossa brasilidade, não disse da vulgaridade! Disse “brasilidade:”
das misturas, das diversidades, das culturas aglomeradas, dos sotaques
diferenciados, das diversas “facetas
que tem o Brasil. ´
Sempre me orgulhei de olhar nos olhos de um aposentado, com a
face enrugada, com postura curvada, aquele que recebe um salário- mínimo e
enche o peito para se gabar dos seus valores, das suas conquistas, da educação
que deu ao filho, das lavouras que ajudou a semear, da vida simples e digna que
teve, dos princípios que herdou do seu pai, que por sua vez herdou do avô, que
herdou do bisavô.
Sempre me orgulhei de ouvir gente tida como “pobre”, mas que
de pobre mesmo, só a escassez de recursos materiais, pois do contrário, é de
uma riqueza de caráter, de “brio” na face, de
vergonha moral, de honestidade que não tem preço.
Sempre me orgulhei de gente que lutou não com armas, mas com
o “peito”, com a bravura de quem sabe o porquê luta e se arrisca a colocar a
vida em risco pela causa que defende. É aquele tipo de combate que, se o
combatente morrer, morre feliz! E os sobreviventes, lamentam a morte dele, mas
se sentem felizes ao entenderem que morrer por uma paixão é justificável,
ameniza a dor!
Sempre me orgulhei da nossa “brasilidade gastronônima”, do
excesso de: cores, cheiros, temperos, sabores...
Sempre me orgulhei de tantas coisas que, na minha cabeça,
representam o Brasil.
Hoje, essa brasilidade já não é a mesma e nem me orgulha
tanto! Importamos futilidades “anglicizadas”, bobagens “inglesadas”, gírias
estadunidenses, estilos fast-foods. Não quero parecer xenofóbica, apenas
enfatizar que importamos “merda” e exportamos “estrumes” que fertilizam o mundo
à custa de um pseudo-enriquecimento de nossa parte.
Percebo que se fala muito mal o português e tem um tanto de
brasileiro metido à besta achando que está abafando ao falar meia dúzia de
expressões em inglês enquanto escreve “nóis vai”, “a gente fomos.” A minha
crítica não se refere às pessoas que falam errado por desconhecimento/ ignorância,
mas sim, àquelas que criticam o ex-presidente por ele não ter curso superior,
por falar errado sendo que, no fundo, sabem menos ainda.
Enfim, em plena Copa do Mundo, no meio de um vulcão em
erupção, de uma caixa de marimbondos ouriçados, de gente de tudo quanto é
jeito, vindo de todo canto possível desse mundo, com o fervor das manifestações,
eu me encontro aqui, tentando arrumar força interior para resgatar o meu
orgulho à brasilidade, hoje, perdida!
Como eu disse no começo do texto, pouco sei sobre futebol,
mas nem por isso, vou torcer contra o meu país, mesmo que uma ínfima parcela
dele tenha me decepcionado ao xingar a Presidente da República numa forma
catártica de exposição mundial. Não é dessa brasilidade elitizada e sem
educação que eu me orgulho, ela não me representa!
Não sei o que dizer. Talvez a brasilidade que habita em mim
soe – oculta – tal como um grito tímido que ecoe, sem ruídos, no meio de um
coral de vozes que disputa com as buzinas para ver quem vibra mais diante do
gol. Um gol contra, outro - fruto de um pênalti que não existiu- àquele
projetado pelo futuro artilheiro da Copa – e um, verdadeiramente digno, resultante de um motivador intrínseco.
Talvez essa brasilidade, essa mesmo, que habita em mim, seja
confusa, pois ela não entende o porquê de milhares de pessoas poderem levantar
uma campanha “Contra a Copa do Mundo” e o Marcelo não poder fazer um gol contra?
Ah, talvez como brasileira, eu esteja me sentindo uma “gringa”
que olha ao redor e enxerga tudo diferente, não se vê e não se reconhece.
Hoje, sexta-feira 13, do mês de junho (um dia após o dia dos
namorados e a abertura da Copa do Mundo 2014 no Brasil) dia de Santo Antônio, eu
acabo de descobrir que aqui, no Brasil, existem várias línguas e,
definitivamente, “Vai tomar no cú, Dilma” é uma expressão que não existe no
vocabulário da língua que eu falo! Lá em Minas, no seio da minha família, na educação
que recebi, com toda a minha brasilidade mineira, esse “trem” não entra dentro
de casa! Dá azar, ofende, denigre e rebaixa, não necessariamente a quem se
pretende atingir, mas sobretudo, a si mesmo!
Peço a Deus que a Copa acabe, como irá acabar, mas que junto
com ela não acabe – dentro de mim – o respeito pelo outro e, sobretudo, os
valores e os princípios que herdei daquela saudosa brasilidade (que falei no
começo), no meu caso, construída lá em Minas, na minha casa, na minha família,
junto com as pessoas que amo!