Em busca de liberdade e/ou de
libertação?
Josimara Neves
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Fonte: http://acasadevidro.com/2015/07/20/eu-sei-porque-canta-o-passaro-engaiolado-dois-poemas-maya-angelou-e-rabindranath-tagore/ |
Não sei ao
certo a diferenciação entre liberdade e libertação. Quando penso em liberdade,
na minha mente, vem a imagem de “asas”, de um voo que transcende à esfera da
finitude humana. Metaforicamente, um pássaro qualquer. Já, a libertação, como
uma liberdade aprisionada, um aprisionamento do que liberta, a impossibilidade
de voar, mesmo tendo asas. Uma corrente que aprisiona braços que querem se
movimentar. Abraço impedido, pernas inertes, olhos vendados, falas contidas,
sentimentos não demonstrados, talentos sufocados, sonhos guardados. Alegrias
ocultas por trás de tristeza aparente. Sofrimentos que ocupam lugares onde a
felicidade deveria se manifestar. Projeções que inviabilizam a beleza existente
no que é real. Ilusões que deturpam a visão e distorcem o entendimento nos
fazendo acreditar que o ideal é superior à realidade, dando o esquecimento da
beleza contida nos hiatos da vida, nas entrelinhas do dito, na grandeza
existente naquilo que, aparentemente, é pequeno.
Ausência de libertação é similar ao
aprisionamento da alma, é algemar apenas as asas e colocá-las dentro de uma
gaiola, enquanto o corpo permanece do lado de fora dela. Assim, o corpo faz um
movimento para sair, mas a alma não a acompanha. Por quê? Porque há incongruências que precisam
ser alinhadas. Corpo e alma necessitam se afinizar, reconciliarem-se. Não há
liberdade se não houver libertação e, não há libertação, se a própria pessoa
não se dá a carta de “alforria”. Escrava de seus vícios, subalterna a
pensamentos nocivos, subordinada à tristeza, refém do sofrimento, vítima de si
mesma.
Libertação é
mais do que bater asas e voar, é (re)aprender o prazer de alçar voos. Bater
asas talvez seria, para os pássaros, o que andar é para os humanos: um
movimento natural. Mas saborear o voo é diferente de apenas voar. Quem não
curte o voo e vislumbra as alturas, só bate asas, mas não voa. Aquele que anda
e não se vislumbra com a caminhada, apenas anda. Há quem passe pela vida e só
saiba andar, há aqueles que, por problemas físicos, motores, nunca andaram, mas
aprenderam a caminhar de outras formas. Viver é mais do que cumprir com aquilo
que é funcional, que cumpre uma função. É descobrir o que impulsiona. Pulsão.
Há pessoas
que são pássaros engaiolados, mesmo tendo possibilidades de voar, de romper com
o espaço limitador, no interior de sua gaiola. Há outras, que nasceram “engaioladas”,
devido às suas limitações, mas no decorrer da vida, descobriram brechas para
voar.
Liberdade é
um dom, uma característica natural. Quando perdida ou não encontrada, torna-se prisão.
Libertação é a capacidade de redescobrir a liberdade perdida e de romper com os
grilhões interiores para que a alma possa, enfim, voar na finitude da existência
humana e na infinitude divina e sideral.
Enquanto
pássaro, você tem liberdade. Enquanto Fênix,terá libertação. Essa, conquistada
através do renascimento interior, da superação da crise, da descoberta através
do autoconhecimento.
Reconciliar-se,
sentir-se em paz, olhar as possibilidades existentes entre as brechas da gaiola
é essencial para quem anseia conhecer a liberdade oriunda da libertação.
Voe, feche
os olhos, deixe o vento bater e refrescar a sua alma. Não sinta o peso de ter
que bater as asas. Ao invés disso, entregue-se, de corpo e alma, ao voo! Essa é
uma forma simples de transcendência.