Sou, se sou: quem sou?
Josimara Neves
Sou menina, moça, moleca, filha,
irmã, tia, sobrinha, prima, namorada, amiga...
Sou alguém que tem sede de “ser”,
de ter identidade, de ter expressão, de ter voz, de ter a alma livre para poder
alçar voos e desbravar o mundo.
Sou alguém que deixa marcas e que
também é marcada...
Sou alguém que possui defeitos e
qualidades...
Sou alguém que se esforça para
resistir às forças opressoras e negativistas do mundo...
Não quero ser melhor do que
ninguém, mas não me permito deixar de dar o meu melhor, se assim eu posso
fazer.
Não busco aprovações, mas quero
ser reconhecida.
Não quero ser igual, porque
aceito a minha diferença no mundo.
Tenho horror à perfeição, quero
poder errar e assumir a minha falibilidade no mundo, quero poder ser “humana”,
sem ser julgada pelas projeções alheias, depositadas em mim.
Descobri o prazer de ser mais ou
menos, sem precisar ter que ser sempre mais, e mais, e mais... Nem por isso,
acomodei-me ou mesmo, fechei os olhos para o aprendizado e para novos
conhecimentos.
No silêncio, dentro de um
silêncio ainda mais “silencioso”, escutei-me de tal forma que até o vento
uivava de tão ensurdecedor. Aprendi que tem coisas que não são ditas em
palavras, nem sempre palavras saem da boca de alguém, nem sempre alguém é que
nos fará escutar. Desse aprendizado, levo comigo a certeza de que a paz
interior, para poder existir, necessita consultar a voz que ecoa aos ouvidos da
alma, seja através de um sopro, de um assovio, de um arrepio, de um sussurro,
de um silêncio que grita ou de um grito que se silencia, de um olhar
compenetrante ou mesmo, diante do desvio de um olhar. Da mão que se estende ou
de outra que se recua, da aproximação ou do distanciamento...
Aprendi que se limitar a pensar que o silêncio
é audível, é uma forma restrita de conceituá-lo. Pode ser sentido na pele,
visto nos olhos, ser indigesto como se tivesse paladar, ter fragrância e
nuances. É, o silêncio tem me ensinado! Não a deixar de conversar, mas a falar
de coisas que ocultam o que quero silenciar.
Sou alguém que, por muito tempo, sonhou
acordada, mas que hoje, acorda sonhando: um sonho lindo e real.
Sou alguém que acredita que a
vida pode ser doce e que é possível encontrar doçura até mesmo na amargura.
Sou alguém que aprendeu a
construir castelos de concreto, depois de ter tido os castelos de areia destruídos pelo vento... Não
deixei de “castelar", apenas aprendi que não preciso deixar de fazer algo
que me nutre somente porque alguém poderá destruir a minha obra, ao invés
disso, fortaleci a minha (arga)massa interior.
Sou alguém que aprendeu que quem
consegue romper com o “casulo”, nunca mais terá medo de voar.
Sou alguém que aprendeu que ter
pensamento falante causa desgaste nas “cordas vocais” da alma.
Sou alguém que descobriu que o
mundo de fora é mera extensão daquele que se esconde nos recônditos
interiores...
Sou alguém que veio ao mundo para
escrever a própria história, para contar causos, aprender com os casos e se
conectar diante dos acasos. Sim, minha vida é recheada de casos, causos e
acasos!
No verso, uma inversão!
No avesso, um tropeço!
Na escuridão, um clarão!
No compasso, um descompasso!
Às vezes, quando tenho que ser
coesa, saio-me coerente, outras, falta-me sentido, mas não, prolixidade! Há
momentos em que penso que a vida precisa de menos nexo e mais sexo, em outros,
acho que menos sexo teria algum nexo, mas não teria sentido. Acho mesmo que a
vida precisa de tudo um pouco, e muito, em outros poucos. Mas quem é que vai
nos dizer quando é que o muito precisa de pouco e o pouco de muito?
Antíteses misturadas, metáforas
exageradas, hipérboles “eufemizadas”, falas onomatopeicas,
singular-pluralizada: sou um pouco assim!
Sabe, desisti de tentar me
definir! Minha mente “labiríntica” se perde cada vez que se encontra e, se
encontra, cada vez que se perde!
Acho mesmo que, se eu pudesse me
definir, diria que sou um coringa no meio de um baralho tão bem embaralhado, só
me resta: sorrir!
Lembra-se daquela menina que
começou esse texto?
Então, hoje, ela é MULHER! E,
como mulher, nunca deixou de ser: moça,
moleca, filha, irmã, tia, sobrinha, prima, namorada, amiga! Mais do que isso,
hoje essa mulher é capaz de reconhecer que não seria nada se não tivesse, ao
lado dela, mulheres incríveis que teceram a sua personalidade.
E, em gratidão a essas mulheres (
minha mãe, irmãs, sobrinha e amigas), tão especiais, fica aqui – registrado –
os meus parabéns, porque elas fazem jus, diariamente, ao “Dia das Mulheres!”
Feliz Dias das
Mulheres para aquelas que não se permitem ser rótulos, e são capazes de romper
com as diversas formas de estigmatização.
Ser mulher foi e
sempre será um desafio de cada, e toda, época!